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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma injeção de esperança

vacina1

Novamente, surge uma esperança. Na sua edição de hoje, a revista Science publica dois artigos sobre a identificação de anticorpos que combatem o HIV. Os artigos são assinados por cientistas do Centro de Pesquisas de Vacinas (VRC) do NIH (National Institute of Health; Instituto Nacional de Saúde do Governo americano). Essas proteínas são raríssimas e complexas, mas podem ser base para a criação de uma vacina terapêutica nos próximos anos.

Há dois tipos de sistemas imunológicos no corpo humano: o inato e o adaptativo. O inato é natural da pessoa e reage de forma genérica a antígenos muito comuns, como proteínas e açúcares estranhos ao corpo. O sistema adaptativo, como o próprio nome indica, pode se adaptar para reconhecer novos agentes estranhos. Geralmente, as vacinas trabalham no sistema adaptativo, que é "treinado" com elementos atenuados.


Envelopes de resistência
Até agora, as pesquisas estavam voltadas para células do sistema adaptativo, como os linfócitos T CD4+ e T CD8+. Essas células também são capazes de matar células infectadas por HIV, mas apenas após um longo período que pode variar de dias a meses após a infecção. Esse tempo de resposta pode fortalecer a infecção a ponto de torná-la vitalícia. Isso acontece por que o sistema adaptativo só pode se defender de ataques que estejam ocorrendo.

O sistema inato é uma linha de defesa mais primária, que baseia-se no reconhecimento imediato de antígenos como proteínas e açúcares que não são produzidos pelo organismo. O sistema inato pode até impedir a infecção — e, como agora se sabe, o HIV não é uma exceção. Mas há uma série de fatores que dificultam essa abordagem mais imediata. Um dos motivos que dificultam a exposição do HIV ao sistema inato é a facilidade com que o vírus é barrado fisicamente. Outro motivo é que o vírus, uma vez infiltrado no organismo, começa a infectar justamente as células que são capazes de matá-lo — os linfócitos T.

Pesquisas já apontaram diversos anticorpos capazes de neutralizar o vírus da aids. Mas a maioria deles se liga ao vírus através de pequenos "envelopes" na capa externa do HIV. Entretanto, assim que se estabelece a infecção, o HIV desenvolve uma estratégia de resistência simples, enchendo esses envelopes com glicanos ou açúcares e isso impede os anticorpos de alcançar o calcanhar-de-Aquiles do vírus.

O que falta, portanto, é um anticorpo capaz de uma ligação muito forte com um ponto exposto da superfície do vírus e que não possa ser bloqueado facilmente.

“Controladores de Elite”
Os cientistas do NIH decidiram então observar os anticorpos presentes no sangue de pessoas com boa capacidade de controlar infecções por HIV. Chamadas de "controladores de elite", essas pessoas não eram estudados por que suas respostas ao HIV pareciam vir do sistema adaptativo.

Através de técnicas sofisticadas de engenharia reversa, os pesquisadores identificaram três proteínas altamente neutralizadoras. Elas foram chamadas de VRC01, VRC02 e VRC03. Também foram isoladas os linfócitos B que produzem essas proteínas.

hiv
gp120: estrutura usada pelo HIV para invadir células pode ser um ponto fraco
Os dois primeiros anticorpos têm estruturas muito semelhantes e ligam-se à Glicoproteína Transmembrana gp120, a mais externa do HIV. A gp120 é uma proteína em forma de “couve” usada pelo HIV para invadir a maioria das células, inclusive as CD4+ e CD8+. O VRC01 e o VRC02 ligam-se a essa proteína de atracamento em um ponto muito exposto e que não pode ser bloqueado pelo vírus com a adição de açúcares.

Os dois anticorpos neutralizaram 91% das 190 cepas de HIV testadas pelo grupo de pesquisadores. Entre essas cepas, encontram-se a maioria das variedades do vírus da aids presentes no mundo e praticamente todas as que são capazes de transmissão sexual — 80% dos novos casos são resultado de contaminação por via sexual.

1 chance em 1 milhão
VRC01 e VRC02 ocorrem naturalmente, mas são produzidos por um tipo muito raro de linfócito B, chamado de célula B memória-específica RSC3. Essas células imunológicas são tão raras que das 25 milhões que foram analisadas pela equipe apenas 29 RSC3 foram encontradas. Em muitos casos, as proteínas encontradas eram imaturas ou precisariam passar por uma série de combinações para ser transformadas em VRC01 ou VRC02.

A raridade dos anticorpos encontrados pode ser um obstáculo para a produção de vacinas. Ainda não se sabe como estimular a produção desses anticorpos até a concentração necessária para impedir a infecção.

Uma possível solução seria projetar novas proteínas que também sejam capazes de bloquear o mesmo ponto fraco do HIV. Essas proteínas artificiais poderiam ser usadas em vacinas terapêuticas, para "ensinar" organismos infectados a combater o HIV. Outra possibilidade é que a descoberta ajude a explicar como os macacos conseguem controlar a infecção pelo SIV, o equivalente símio do HIV.

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