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sábado, 10 de julho de 2010

Preto no Branco

Tété-Michel Kpomassie colhia cocos no meio da floresta quando uma cobra o assustou, fazendo-o cair da árvore. Mal sabia ele que esse susto acabaria levando-o à Groenlândia. Kpomassie nasceu no Togo em 1941 e era um adolescente que só tinha seis anos de estudos básicos. Seu pai, um homem importante da aldeia onde vivia, tinha oito esposas e 26 filhos. 

O pai de Kpomassie acreditava que seu filho só seria curado das lesões que o susto causou se ele fosse consultar a sacerdotisa do culto à python. Então, ele levou o filho para encontrá-la. Os dois viajaram uma noite inteira através de floresta densa, até um lugar infestado de cobras: era o local onde se cultuava a python. A cura funcionou, mas a sacerdotisa alegava que agora ele precisava pagar pela cura. O preço: ser iniciado nos rituais e viver sete anos no meio da selva, num verdadeiro ninho de cobras.

tete-michel 
Enquanto se recuperava em sua aldeia e preparava-se para voltar e cumprir a promessa, Kpomassie descobriu na biblioteca de um missionário jesuíta um livro infantil sobre a Groenlândia. Aquela terra com um nome estranho não só não tinha cobras, como também não tinha árvores nas quais elas pudessem se esconder. Kpomassie apaixonou-se pela Groenlândia. Assim que pode, ele fugiu de casa com uma única ideia na cabeça: chegar à grande ilha gelada.

Durante doze anos Tété-Michel viajou e trabalhou por vários países da África Ocidental e da Europa. Ele nunca ficou mais de seis meses no mesmo lugar. Aprendeu as línguas sozinho, através de cursos por correspondência, fez muitos amigos e, por onde passava, era considerado um bom contador de histórias (no bom sentido). Finalmente, em meados dos anos 1960, ele encontrou um barco com destino à Groenlândia. Em Um Africano na Groenlândia, sua autobiografia, Kpomassie relata o encontro com os Inuit:
Assim que eles me viram, todos pararam de falar. O silêncio era tão intenso que era possível ouvir o voo de um passarinho. Eles começaram a sorrir de novo; as mulheres abaixaram os olhos. Enquanto eu esperava diante deles à beira-mar, todos levantaram suas cabeças para ver meu rosto. Algumas crianças escondiam-se debaixo dos casacos das mães, outras começaram a gritar e a chorar, bastante assustadas.
Escrito em francês, o livro de Kpomassie deu-lhe projeção mundial e rendeu-lhe o Prix Litteraire Francophone International [Prêmio Literário Francófono Internacional] de 1981. Atualmente, Teté-Michel vive em Nantes, na França.

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